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CURIOSIDADE:

No ano de 1805, sensível à necessidade da população do bairro de dispor de serviços religiosos de forma contínua e em local próximo de seus lares, o Bispo Diocesano Dom Mateus de Abreu Pereira transformou a igrejinha dos monges em capela curada, determinando a presença de “capelão secular a fim de lhes dizer missa e lhes administrar todos os sacramentos”. A atitude do bispo desagradou aos monges, que enxergavam nela uma interferência indevida sobre a capela que lhes pertencia. Iniciou-se aí um conflito que envolvia os monges, as autoridades diocesanas e os interesses populares. Em 21 de outubro de 1812, alvará do Príncipe Regente Dom João VI, confirmando resolução do dia 23 de Setembro, autoriza a criação da Freguesia e da Paróquia de São Bernardo, cuja sede deveria ser na capelinha dos monges e que abarcava em seus limites toda a região do atual ABC. Mas, os religiosos pressionaram, e em janeiro de 1814, uma determinação do príncipe regente definia que a ermida dos beneditinos só deveria ser utilizada provisoriamente como matriz. O padre nomeado para assumir a freguesia, José Basílio Cardim, resolveu, então, construir uma capela provisória em outro terreno, também em território beneditino, próximo ao que seria hoje o Km 20 da Via Anchieta. No entanto, o local se revelou inviável por situar-se “na coroa de um estéril outeiro, sem águas e batidos de impetuosos ventos”, que dificultavam muito as atividades do sacerdote. Outro local teve que ser escolhido: a solução encontrada foi uma área a 600 passos dali, escolhida pelo Tenente Coronel Daniel Pedro Muller, membro do real corpo de engenheiros, que fora encarregado de resolver o problema. O terreno, pertencente à fazenda do lavrador Manoel Rodrigues de Barros, foi cedido à igreja, que lá erigiu primeiramente a capela de Nossa Senhora da Boa Viagem (1814), a qual funcionou provisoriamente como sede da paróquia até a inauguração, nas mesmas terras, da Igreja Matriz, em 1825. No entorno do largo da Matriz, poucos anos depois (em 1833), se definiria o primeiro perímetro urbano da freguesia, com a demarcação de suas cinco primeiras vias, hoje conhecidas como Marechal Deodoro, Santa Filomena, Dr. Fláquer, Rio Branco e Padre Lustosa.

Os primeiros traços do centro da cidade esboçavam-se justamente numa época de grande circulação de tropeiros e viajantes pelo caminho do mar, movimento impulsionado pela lavoura de açúcar paulista, que continuava em ascensão. Junto com o açúcar, o tropeirismo – tanto na região como em toda a província – também atingia sua época áurea, uma vez que eram as tropas de mulas as únicas responsáveis pelo escoamento do produto até o litoral.

Todavia, a partir de 1850, ficou evidente às autoridades paulistas o entrave que o transporte por meio de muares representava à agricultura de exportação: a lentidão excessiva, os desperdícios em estradas que permaneciam ruins, mesmo com manutenção frequente, e a precariedade dos ranchos e pousos encareciam excessivamente os custos e tornavam inviável a expansão da lavoura para regiões muito distantes do porto de Santos. Portanto, a construção de linhas ferroviárias, já num momento em que o café havia tomado a hegemonia do açúcar na pauta de exportações da província, garantiu um enorme barateamento no transporte da produção agrícola paulista. Elas foram, sem sombra de dúvida, fatores essenciais para o vertiginoso desenvolvimento que São Paulo alcançou no final do séc. XIX.

No entanto, com o estabelecimento das linhas férreas, foi inevitável a decadência do tropeirismo e com ela também o abandono do caminho do mar, uma vez que, desde 1867, a função dele passou a ser cumprida de forma muito mais eficiente pela estrada de ferro Santos-Jundiaí, cujo trajeto passava pelas áreas das atuais cidades de Santo André e São Caetano. A freguesia, que tinha no transporte por muares um dos seus alicerces, sentiu grandemente o impacto. Seu revigoramento só ocorreria com a chegada da imigração européia, alguns anos depois.







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